sábado, fevereiro 12, 2011

I CAN'T TAKE MY EYES OFF YOU

Cacilhas, Domingo de manhã. Um desses Domingos já perdidos no tempo e nas turbulências da vida e que a memória insiste em trazer de volta às vezes.

Tinha dias assim. Saía de casa, sem destino. Metia-me no autocarro ou no barco e ia a Lisboa. Chegava a ficar horas no Colombo (p.ex) parado a olhar para a manada. Pensava se um dia poderia entrar naquela loja que tinha aquelas camisas de que tanto gostava. Ou se alguma vez poderia ter aquele ecrã de plasma (mesmo que já tivesse saído de moda) na sala da minha casa. Mas ainda assim, era muito feliz. Porque sentia no meu sangue a força que um dia levar-me-ia lá. Talvez tenha sido isto que me moveu sempre muito. Os desafios. Quando eles faltam, eu falho. Matemático.
Não sei porquê mas quando estou em Lisboa sinto que respiro melhor. Um estranho sentimento este sendo eu do campo e sentindo isto numa cidade. Parava em frente ao velho Estádio da Luz e pensava que há algum tempo nem poderia imaginar que naquele dia estaria ali. Coisas tão simples aquelas de que somos feitos. Coisas tão simples ...
Entrava na Fnac e via todo aquele Mundo que só conhecia à distância na ponta dos meus dedos. Cresci no mato, sabem. E em África. Onde há gente que nunca andou de carro.

Num desses Domingos, fazia o regresso à casa de barco. Era manhã ainda, por volta das 11 horas. Em frente de mim estava sentada uma rapariga. Não era a mais bela rapariga do Mundo mas foi a primeira que me fez pensar na inocência. Não na minha. Naquela que ela aparentava ter. Fitava-a por alguns segundos e desviava depois o olhar. Mas não conseguia ficar sem olhar muito tempo. Quando ela apercebeu-se passou-se algo que me persegue até hoje. Com um sorriso fitou-me a travessia toda. E eu retribuí, claro. Posso garantir que fiquei a conhecer aquela miúda pelo olhar. Mas o destino, essa fatalidade lixou-me!

O telefone tocou por uma parvoíce qualquer. A pessoa do outro lado demorou mais tempo que o desejado para desligar e eu à saída do barco, ainda com ela ao meu lado quase caminhando como se estivéssemos juntos, fui andando até conseguir desligar. Mas.. Não sei o que se passou, não houve palavras. Houve o olhar e depois, um toque. Ela encostou-se a mim como se quisesse se aconchegar e eu, confuso, afastei-me pensando que seria por causa da multidão. Ao afastar-me ela sorrindo afastou-se também. Afastou-se e entrou num táxi.. E foi-se embora. E nunca mais a vi. Só depois percebi que não havia multidão e que o encosto não foi por um empurrão. Foi um empurrão. Que eu não percebi. E nunca mais esqueci.

2 comentários:

M. disse...

Vais-te martirizar para o resto da vida!!!!!!!!!

Lamento mas será assim!


Isto é o que se chama por aí de química...

Não há hipótese de a reencontrar? Ou preferes assim? (também é bom).


Aparte: excelente a música:)

EK disse...

M.
Pelo menos lembrar-me vou. E lamentar.. Não me parece que haja hipótese mas também não é por isso que morro.

A música .. :)