quarta-feira, agosto 19, 2015

"No adultério, há pelo menos três pessoas que se enganam." (Drummond)

Partindo de um artigo vindo dum local que serve de ponto de partida para vários pensamentos, pela variedade da escrita o que, naturalmente, reflecte uma variedade de ideias, dei de caras com esta frase do saudoso Drummond de Andrade que toca num assunto que sempre foi assunto. A traição.

No texto podemos ler uma alusão ao facto de até a Gisele Bundchen ter sido traída e que isso serviria, segundo o autor, para rebater aqueles que afirmam que em vários casos os traídos também têm culpa.
Ainda segundo ele, quem poderia acusar a Gisele de merecer a traição? Uma das mulheres mais lindas e desejadas do planeta? Parece-me óbvio que o autor esqueceu ou ignorou tudo o resto. Não é só a beleza que nos torna especiais.

Sobre este assunto posso opinar pela experiência própria de quem se encontra numa relação e que, embora nunca tenha traído - pelo menos físicamente -, já esteve perante a tentação de fazê-lo algumas vezes. Felizmente sempre consegui colocar-me virtualmente no lugar da minha companheira e chegar à conclusão de que não existe justiça nenhuma na mentira. A dignidade não tem preço.

Um caso destes encerra sempre duas histórias dentro da mesma. A primeira, a história de quem é traído e imaginar uma situação dessas é das coisas mais dolorosas que pode assombrar a nossa mente.

Depois, a história de quem trai. Uma relação encerra uma dinâmica muito própria. É preciso uma adaptação à outra pessoa, às limitações que surgem naturalmente, ao compromisso que não é só afectivo e à própria ideia de que se assumiu algo que é para o resto da vida. Deixa marcas e ninguém passa por isso com indiferença. Quando se percorre esse caminho, aparecem cenários que nos fazem acreditar que aquela barreira é intransponível ou que, afinal, a pessoa certa não existe e se existe, não está connosco. Esse sentimento pode durar horas ou dias. Em casos extremos, dura para sempre. É aí que surge o cheiro de um amor antigo, a visita de uma prima mais próxima ou até a chinesa nova lá no bairro que é diferente de todas as outras. Tudo parece justificar o desejo porque acreditamos que temos direito à vida sem limitações. E no fundo temos. Desde que sejamos honestos e não criemos essa mesma limitação ao assumir um compromisso com alguém.

É onde se fala finalmente de amor. Diz-se que um compromisso com amor liberta. Eu diria que um amor sem compromisso é que liberta. Tudo o resto ou é natural ou, não sendo, deve ser motivo de preocupação.

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