Estou para escrever este texto há pelo menos um ano, mas a minha inabilidade com as palavras bem como a tão recorrente falta de tempo não mo permitiram fazê-lo antes. Ainda bem porque assim aproveito o facto de Mark Zuckerberg ter sido "escolhido" como o homem do ano pela Time e aceito o mote.
Este fenómeno que vem do hi5 e transitou agora para o Facebook (acho que foi assim) é dos factos mais sintomáticos dos nossos tempos. Uma verdadeira epidemia que se alastra a uma velocidade impressionante não dando mostras de abrandamento, sendo que, na minha opinião trata-se mesmo de uma doença que atinge a produtividade das pessoas de uma forma decisiva. Senão vejamos:
- Jovem de 15 anos, agarrada ao iPhone na mesma mesa de café onde me encontrava hoje. Veio, na companhia de seu Pai com quem eu tenho assuntos do dia-a-dia a tratar regularmente. Durante os cerca de 50 minutos em que estivemos sentados não houve um único momento em que largasse o telefone. Quando o Pai a questionou, respondou, vagamente, como se de algo óbvio se tratasse: Facebook.
Estabeleço aqui um paralelo relembrando o seguinte: Quem sabe, o problema não será apenas esta "dedicação" obsessiva a uma causa - que mais parece extremista - mas também, o inevitável afastamento que provoca a situações bem mais reais. A vida real. Recordo-me que na idade dela, fazia questão de prestar atenção às conversas do meu Pai para que pudesse sonhar em fazê-lo, igualmente, depois. E quando não fazia questão era inevitável ouvir e pensar nisso esporádicamente.
- Homem, 36 anos, funcionário de um grupo empresarial com responsabilidades administrativas na empresa. O episódio passa-se com o mesmo homem em frente a um computador aparentando um ar cansado de quem trabalha há 48 horas sem interrupção quando entra na sua sala o dono da empresa. Facebook, twitter e tumblr ligados em simultâneo ao trabalho que pretende apresentar ainda esse dia. Como pode, uma coisa destas, não afectar o seu rendimento?
Pequenos exemplos de uma rede onde há pessoas que publicam as primeiras fotos dos seus filhos, anunciam casamentos e divórcios e até, choram a morte de pessoas próximas. Partilham isso com o Mundo.
Não percebem, ou não se importam?
O ser humano torna-se cada vez mais o ser vivo com menos vida, resumindo a sua existência a impulsos traduzidos no clique de um rato onde se diz: Gosto!, Comentar, Adicionar como amigo, etc, etc ..
Importa referir que não importa quantos amigos tens no Facebook (20 ou 500, tantro faz). Importam os amigos da vida que são feitos, mantidos e tratados sempre que não se esteja em frente a um computador.
Eu, não tenho. Nunca tive Facebook. A experiência do hi5 chegou-me.
Mas mais que criticar o Facebook - não se trata disso, a sério! - convém pensarmos no título deste post e reflectir. Hoje há um outro fenómeno. Os blogues.
Muito mais controláveis, saudáveis até como espaço de debate e com possibilidades de moderação e exposição à medida do freguês. Nestes espaços uns optam por mostrar as mamas e obter 200 comentários, outros optam por soltar uma frase alusiva à temperatura e obter 20 comentários. Outros falam de outros assuntos que merecem que se perca mais tempo a pensar nisso e .. ninguém comenta. Desde que pensem já é um ponto positivo.
Isto transporta-nos para outra situação digna de reflexão. A preguiça mental.
Em que é que nos estamos a transformar?
5 comentários:
Acho triste que se valorizem tanto as redes sociais... é um bocadinho limitado - para não dizer muito.
Também estou fora do Facebook?
Posso ir para a prisão?
Eu ainda não consigo assimlar o conceito de "amigo virtual". No meu tempo era o pai natal...
Não tens jeito para escrever? Olha a falsa modéstia!!!!
S*
É aquilo em que nos estamos a transformar.
Um amigo, que não seja teu amigo numa rede social, deixa de ser teu amigo. Percebeste?
Bem-vinda.
M.
Se for pra ir para a prisão, vamos juntos.
E acredita, as vezes não consigo mesmo escrever!
Eu tenho facebook, aderi nos picos do hi5, apaguei o hi5 e esqueci-me que tinha facebook pq nunca lá ía. De repente, dei por mim a viver em Sydney e, de cada vez que acedia ao e-mail, uns 300 convites de amizade no facebook. Aí lembrei-me que tinha essa página que veio a revelar-se uma ótima e muito boa fonte de "companhia" para as minhas manhãs no escritório (noites em Portugal).
Foi, sem dúvida, a melhor forma de me manter em contacto com tanta gente que gosto. Sou, assumidamente, fã do facebook. E não gosto de ouvir falar mal do facebook por um motivo simples: ninguém é obrigado a criar uma conta! Quem quer, tem. As questões da privacidade são igualmente inúteis: Se não querem que se saiba, não se publica... ou restringe-se a visualização. O site é muito bom a esse nível.
Quanto aos blogues, passou de moda. Os blogues estiveram na moda há 10 anos atrás, eu criei o Mehr Licht, inicialmente, no sapo. Depois blogger e agora tumblr porque tem uma dinâmica diferente, os bloggers têm acesso direto aos posts dos blogs que seguem. É interessante e gosto de me manter a par da atualidade (either i like it or not).
Mas, no fundo, vou ainda mais longe. Acho que, mais do que preguiça mental, há uma preguiça social. Uma estatística qq falava, há dias, que os adolescentes actuais são muito mais "disciplinados" do que os das gerações antecessoras. Drogam-se menos, bebem menos, saem menos. Porquê? Porque estão enfiados em casa, no facebook, na internet em geral... Quando saem (uma vez por mês) vão todos munidos de máquinas fotográficas para registar o momento para quê? Para publicar no facebook, obviamente. Quando o facebook devia ser um meio, é um fim em si mesmo.
Preguiça social e sentido de equilíbrio. Todas as coisas podem ter utilidade desde que usadas com moderação. Mas enfim, a maturidade chegará e as coisas revelar-se-ão, mais tarde ou mais cedo, doa a quem doer.
E eu, que vinha cá para te desejar um Feliz Natal, acabei por me perder.
Feliz Natal :) Muitos beijinhos :***
Bons olhos te vejam por aqui Carla. Sempre um prazer, já sabes.
Não critico o Facebook em si e isso está expresso no post. Critico, isso sim, o uso que é inadequado na maioria dos casos e noto que no fim acabas por me dar razão quando falas em preguiça social. O homem de quem falo aqui no post é meu funcionário e tem a sua produtividade bastante comprometida, acredita.
Quando não se dá o devido uso a determinadas coisas, estas acabam por se transformar num vício. Numa droga!
Este problema é cada vez mais abrangente e é isso que me preocupa verdadeiramente.
Olha, para mim os blogues só estão na moda há um ano. Antes disso nem me tinha dado conta. :) Sempre atrasado eu.
Não te percas, estás aqui! :)
Obrigado e um Feliz Natal para ti nesse frio onde eu tanto queria estar.
Muitos beijinhos para ti. :) ****
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