Depois que a conheceu, raras foram as vezes em que passou um momento sem que estivesse a pensar nela. Talvez por vir de um clima de opressão tão acentuada e de viver com a ideia de que nada de muito bom ser-lhe-ia permitido durante a vida. Ela deu-lhe ar, esperança. Até aquele dia só tinha ouvido falar dela - a esperança, essa coisa maravilhosa - e depois sentiu-a. Arrebatadora!
O tempo, esse, prova tudo. E provou que podia almejar muito mais do que imaginou. A sua personalidade, agora carregada da esperança que lhe foi oferecida por ela, cedo percebeu isso.
Ela era cinco anos mais velha. Uma mulher linda com uma cara de menina e belos olhos azuis. O seu cabelo, mais negro que qualquer outra coisa de que ele se lembrasse tinha um brilho paradisíaco. Uma jovem empresária de sucesso que era a referência da sua pequena vila.
Quando a viu no primeiro dia, sonhou. Foi espontâneo, até mesmo involuntário. Quando se apercebeu já a tinha na sua cabeça e não conseguia tirá-la de lá. Na verdade também não queria. O que ele nunca percebeu foi o porquê de ela ter-se interessado por ele.
Um operário estrangeiro sem nenhuma posse e que cuidava tanto da sua imagem como o cachorro que encontrava todos os dias a caminho do café e com quem chegava a conversar.
No início foi um contemplar recíproco dos dois. Ele, já se sabe. Sonhando.
Ela não se sabe. Fazendo pouco? Pensava ele.
Iam conversando esporádicamente quando se encontravam no seu local de trabalho. A simpatia dela era, para ele, aquilo a que todos chamam de "ossos do ofício".
Até que chegou o dia.
Consumida pelo desejo ela arriscou tudo e puxando-o para um canto mais reservado do local onde se encontravam, agarrou-o pelo pescoço e beijou-o ardentemente quase arrancando os seus lábios! Ofegante, parou e fitou-o como que aguardando a reacção. Depois do choque a realização.
- Eu amo-te!! Amo-te tanto! - disse ela.
- !!!!! - perplexidade.
- Está aqui a minha morada. Espero-te hoje mais logo.
- Sim.. A que horas? - balbuciou ele.
- Vem apenas. Quando quiseres, estarei a tua espera.
Paixão.
Não existirá melhor definição para o que se passou nos três meses que se seguiram àquele encontro. Foi tudo tão intenso que atingiu um ponto onde só os sentimentos podem chegar. As palavras não.
Só que a paixão é ilusão. Se não é, foi. E foi-se mais rápido do veio.
Ficou a recordação. Bela recordação.
2 comentários:
É um lamento?
É uma recordação. E porque não, uma homenagem.
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