DC - Nunca falaste muito da tua mulher. Como é que ela era?
AS - Tinha tudo. Alta, inteligente e com excesso de zelo. Para além disso, tinha uma clavícula incrível ...
DC - Então porque deixaste de gostar dela?
AS - Porque começou a conhecer-me bem demais. A dada altura não era preciso que eu dissesse algo para que ela soubesse o que eu queria. Mesmo quando era imprevisível já ela tinha previsto. E eu comecei a odiá-la por isso. Para quem, como nós, almeja a originalidade essa é a pior das banalidades.
E depois, ela morreu. E eu comecei a sentir saudade da banalidade a partir desse momento.
4 comentários:
Gostei muito do diálogo relatado. Primeiro do desejo de não ser desvendado, penso que é como não quisesse ser tragado, comido, consumido, como faz a mulher aranha que devora o macho. Acho que há essa fantasia de ser devorado e esse medo existe.
Segundo pelo fato de sermos humanos e a finitude nos devora, nos transforma e porque não, nos simplifica, dai a saudade, que por si só já diz tudo, e que neste caso é pontuada pela falta: saudade da banalidade.
Beijos
Ahhh... a parte da clavícula é ótima... rsrsrs
....
Grandes verdades...
E depois ela morreu..e....
Porque será que nós seres humanos as vezes somos tão E.T?
Carolina.
Eu sinto-me um pouco como ele, confesso. Nao gosto muito de passar a ser tao conhecido intimamente que - por vezes - da uma ideia de perda de privacidade. Sao mecanismos de defesa provavelmente e nem sequer sei se estarao no sitio certo. Quanto a clavicula, o pormenor e delicioso.
Susaninha.
Se ha coisa que tenho tao adquirida no ser humano quanto a morte, essa e a insatisfacao! E incontornavel mas o homem nunca, jamais!, esta satisfeito.
Obrigado pela visita.
Desculpem-me a falta de acentos.
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